Comboio Cascais-Lisboa

Março 6, 2008

Uma mulher branca quatro bancos à minha frente parece estar fascinada pelo homem negro com quem conversa. A maneira como olha para os olhos dele, para a boca, para as sobrancelhas, para as mãos, não é um olhar casual. É como se lhe tocasse. O seu olhar segue de uma maneira tão insistente os contornos das suas feições que eu acabo por reparar nela. Aparentemente está calma. A sua postura física é bastante relaxada e nada nela – além do olhar – demonstra interesse. E é esse olhar que me leva a querer saber como é que ele é. Se é bonito, se se veste bem, se tem alguma cracterística física que o torne excepcional. Mas nada disso acontece. Para mim é um homem igual a tantos outros. Não há nada nele que me desperte a atenção. Só o modo como a mulher de gabardine cinzenta o olhava.