X Night

Março 5, 2008

O dia lá fora transforma-se em noite. Gravo discos. Estou triste. Grava esta, é mesmo boa – dizes-me. Não estejas triste. Não me olhes dessa maneira – dizes-me. As pessoas vão chegando. O jantar vai sendo servido. Eu vou-me divertindo. Os outros vão-se divertindo também. Os “sushi” estão divinos. Repetem-se. Uma, duas, três vezes. Duas pessoas snifam mostarda verde e espirram. Nós, os outros, rimo-nos. Eu também. As coisas acontecem à velocidade da luz. E porque é que hoje que já se passaram tantos meses que parecem anos, me estou a lembrar disto? O desejo é como um rio. E eu flutuava nele nessa tarde. O desejo de possuir e ser possuida. O desejo, essa impossibilidade de desistir, de estar constantemente a deslizar virtualmente pelo corpo da outra pessoa. De analisar cada detalhe do corpo à nossa frente detendo-nos apenas nos sítios que por alguma razão elegemos como estações de serviço. Queremos ser reabastecidos. Ateste por favor. E às vezes não é possivel, e às vezes estão fechados e nessa tarde eram essas e tantas outras coisas juntas. Tu a vestires as calças de ganga e eu a analisar a maneira como as tuas pernas e o teu rabo se adaptavam ao tecido, às pregas, aos bolsos. Os discos foram gravados, o jantar acabou. Lavou-se a loiça, ou talvez não. Não me lembro. Eu a reparar em ti, e a chuva lá fora a bater nos vidros da sala. Fomos à varanda. Monhámo-nos. Eu mais do que tu. Eu um bocado à toa e tu a chamares-me do chão. Eu de joelhos e tu também. Eu a beijar-te e tu a deixares-te ir pelo que já tinhas bebido, pela chuva, pela atmosfera, pelo desejo, pela noite que começara comigo triste e que agora me deixava com um misto de excitação e de dor. Porque ter-te era ter-te de raspão, era ter-te enquanto não chegava ninguém. As minhas mãos no teu corpo e tu a dizeres-me para ter cuidado, para estar com atenção, para escutar dentro da minha habitual sobriedade os passos que se dirigiam para o sítio onde estávamos, porque tu estavas com as tuas capacidades alteradas. Tu que nunca te alteravas. Acabámos por voltar para a festa, para os outros, para a impossibilidade de estarmos como se não se tivesse passado nada, tu e eu no sofá, a minha mão nas tuas pernas como se fosse por acaso, as tuas pernas em cima das minhas como se fosse a coisa mais natural do mundo, como se fizessemos aquilo todos os dias, como se a pessoa com quem vivias não estivesse na sala. Como se tu e eu pudessemos ética e moralmente permitirmo-nos, tu ser infiel, eu cometer uma traição, e mesmo assim sabendo que já não havia muito a fazer. Que aos poucos e poucos nos tinhamos apaixonado. Acabei por sair. Tu ainda me pedis-te: Dorme cá. Não fiquei. Esta seria sem dúvida a noite X, mas não foi.

No Palácio

Março 5, 2008

Duas resmas de avantesmas
Marcam passo no terraço
Um patola de cartola
Vira o disco, faz-lhe um risco

Grita o rei: – Eu já voei
Na banheira caloteira
Viajei pela calote
Do meu lindo e belo pote

O macaco no cavaco
A rainha na cozinha

Era uma vez um Gato Maltez
Tocava piano e falava francês
Jogava às cartas de quando em vez
Contando os bigodes: um, dois, três

Enquanto dançava de forma cortez
Fazia a corte à menina Inês
A audácia foi tanta, que no fim do mês
Fugiu com ela para o reino de Fez

Ao ver a filha partir, o Marquês
Agarrou em mil reis, contratou um chinês
Enfiou-o num bote de nome Talvez
Mandou-o dar cabo do Gato Maltez

Passados uns anos chegou o chinês
Mas não encontrou a linda Inês
Já farta das petas do Gato Maltez
Casou-se e bem, com um rico burguês

Mas como não há duas sem três
Depois de fugir com o Gato Maltez
E de se ter casado com o fino burguês
Acabou nos braços do nosso chinês

Mandou às urtigas a vida que fez
Acabou com a história do era uma vez
Quem sabe se há mais, daqui a um mês?
Que grande malandra a menina Inês

Cantiguinhas

Março 5, 2008

• Era uma vez um Gato Maltez, tocava piano e falava francês
• Joaninha voa voa, que o teu pai foi para Lisboa
• João Ratão caiu dentro do caldeirão
• O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia

Pico Pico Sarapico
Quem te deu tamanho bico
Foi o gato da Botelha
P’ra jogar à sobrancelha
Salta a pulga na balança
Dá um pulo e põe-te em França.
As meninas a correrem
E os cavalos a aprenderem
Qual delas é a mais bonita
Que se vai esconder

Tãobalalão
Cabeça de cão
Orelhas de gato
Não tem coração

Fairy Tales

Março 5, 2008

Carochinha
Formiga Rabiga
O Macaco do rabo cortado
O Príncipe com orelhas de burro
Os Três Porquinhos

Coelho da Páscoa
Coelhos em cartolas

Relógios de Cúcú

Jogo da Cabra Cega

Salta Pocinhas
Catavento

O lago dos cisnes
O voo do moscardo

Idiossincracias

Março 5, 2008

Alapar-se
Bichanar
Camaleónico
Estar com formigueiro
Giboiar
Lagartear

Monstros

Março 5, 2008

Besta quadrada
Bicho cabeludo
Bicho careta
Bicho carpinteiro
Bicho de sete cabeças
Bicho do mato
Bicho mau
Bicho papão
Entregue à bicharada
Morreu o bicho, acabou-se a peçonha

Loch Ness
Minotauro
Yeti

Vespas

Março 5, 2008

Cintura de vespa
Ninho de vespas

Ursos

Março 5, 2008

Abraço de urso
Fazer figura de urso
Não vender a pele do urso antes de o ter caçado

Toupeiras

Março 5, 2008

Cego como uma toupeira