Five o’clock tea

Março 6, 2008

O António Meireles e o Bernardo T. tomam chá numa daquelas pastelarias agradáveis que existem na Lapa. Estão rodeados de gente como eles próprios. Sapatos com um berloque em forma de vassourinha, calças cremes, e embora pareça mentira, camisas às riscas. Boas marcas e cremes faciais em dia. As famílias vêm a apurar a raça à várias gerações. Não há nada a fazer. Nós os comuns mortais nunca teremos o mesmo ar cuidado que eles ostentam. Por muito que façamos, por muito que nos tratemos todos por você, nunca vamos atingir a “performance” desta gente.
O chá servido por um empregado fardado a rigor, que por acaso é simpático, e que também por acaso não é para aqui chamado, e o ambiente copiado de uma daquelas revistas caras que se encontram nos antiquários fazem-nos sentir em casa. O Bernardo sempre se sentiu bem em sítios como este. São quase iguais à sua própria sala de estar. O António é um bocadinho diferente, às vezes gosta de frequentar outro tipo de circuitos.
Entre um croissant barrado com doce de morango, e os dedos que são judiciosamente limpos no guardanapo de papel, o António começou a falar sobre uma amiga que conheceu em Maio.
– Ontem à noite queria tanto sonhar com a Rita – diz ele enquanto afasta o lenço do pesoço – Estaria lindissima. Sapatos pretos e aquelas pernas que tu bem sabes.
– E que tal correu? – perguntou o Bernardo, que já reparara nas olheiras do amigo.
– Horrível – e sentia-se que não estava à vontade. – Esta Rita é uma obcessão. Custou-me imenso adormecer. E nem mesmo o livrinho de poesia erótica que me ajuda tanto nestas crises, fez com que sonhasse com ela. Estou de rastos.

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